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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Nordeste segue campeão de homicídios também entre os jovens.

  • Por Fabricio Rebelo
Quando foi divulgado, em fevereiro de 2011, o Mapa da Violência revelou um diagnóstico estatístico dos homicídios cometidos no Brasil entre 1998 e 2008, distribuindo-os por regiões e demonstrando que o Nordeste era o líder nessa modalidade de crime. A divulgação causou alvoroço nos teóricos em segurança pública, pois o estudo desfazia dois pilares básicos da ideologia dominante: o de que a violência era causada por atraso econômico e o de que campanhas de desarmamento seriam eficazes para a redução da violência. O Nordeste, teimosamente, se tornou campeão em homicídios mesmo tendo sido a região com maior crescimento econômico na década pesquisada e sendo líder absoluto em adesão às campanhas de desarmamento.

Nessa quarta-feira (18), uma nova edição do Mapa da Violência foi divulgada, desta vez com ênfase nas mortes de crianças e adolescentes, abarcando a faixa etária até os 19 anos. Suas conclusões reforçam a posição do Nordeste como líder em homicídios e demonstram um fato ainda mais grave: a situação é pior com a parcela mais jovem da população. Se no Mapa de 2011 se apontou um crescimento de 100,4% no índice geral de homicídios, a edição agora divulgada mostra que, entre jovens de até 19 anos, o crescimento na década pesquisada foi maior, de 137,5%.

Se a média da região assusta, há casos pontuais de estados dela integrantes que ultrapassam até mesmo o imaginável. É o que ocorre, por exemplo, com o estado da Bahia, campeão disparado no crescimento dos homicídios de jovens, com o espantoso índice de 576,7% de aumento em dez anos, saindo-se de uma taxa de 3,5/100mil em 2000 para 23,8/100mil em 2010, quase sete vezes mais.

É fato que o fenômeno da violência urbana revela-se bastante complexo, não admitindo soluções simplistas, mas, no caso do Nordeste, a compreensão dos índices é menos intricada do que parece. Paralelamente ao crescimento vertiginoso nos homicídios de jovens, a região também tem enfrentado o maior crescimento das atividades do crime organizado no país, com a presença de facções criminosas antes atuantes apenas na região Sudeste já em quase todos os estados nordestinos. E é o crime organizado, sobretudo o tráfico de drogas, que mais gera homicídios, principalmente entre os jovens.

O tráfico tem hoje em suas hordas, até como estratégia para burlar a maioridade penal vigente, um contingente cada vez mais jovem, não raro com crianças já chefiando segmentos das organizações, e sua atuação no comércio ilegal de entorpecentes traz arraigada uma gama de outras atividades criminosas a ele, direta ou indiretamente, ligadas. Do tráfico derivam as disputas por pontos de droga, os acertos de contas, as cobranças, os roubos para financiar o vício ou reforçar o caixa dos criminosos, os atentados em surtos alucinógenos, dentre outros. Em comum, todos carregam a morte.

Logo, se o tráfico de drogas está mais ativo, com mais jovens envolvidos com suas atividades, mais jovens morrerão. É isso que mostram os números do Mapa da Violência no Nordeste, não sendo por acaso que esta região hoje vivencia uma verdadeira infestação desta atividade, principalmente fomentada pela disseminação sem controle do crack, do que é exemplo máximo a Bahia, justamente a campeã absoluta nos índices de homicídio de jovens.

Para se combater o crescimento de homicídios, portanto, a chave é combater energicamente as atividades criminosas, pois, conforme hoje reconhece a própria ONU, quem puxa o gatilho nos assassinatos normalmente está vinculado ao crime organizado. A eficácia dessa tática se comprova claramente com os exemplos de São Paulo e Rio de Janeiro, onde as políticas reiteradas de repressão e de ocupação de áreas do tráfico têm trazido o resultado de colocar estes dois, destacadamente, dentre os únicos seis estados brasileiros onde, de acordo com o estudo, os homicídios não cresceram.

O problema é que o enfrentamento do crime organizado, do tráfico de drogas, como diretriz de segurança pública é a exceção. A política nacional nessa área vem, há quase uma década, insistindo recalcitrantemente no viés de desarmamento civil como instrumento de redução de violência, o que tem se mostrado um enorme e desastroso equívoco. Em todas as edições do Mapa da Violência já publicadas registram-se índices nacionais de homicídio superiores aos anteriores à publicação do Estatuto do Desarmamento; desde 2003, os homicídios aumentaram em pelo menos 20, dos 27 e sete estados brasileiros; e, em 2011, o fechamento estatístico aponta para o recorde de homicídios, com um total estimado superior a 52 mil vítimas.

Não é necessário nenhum esforço para se concluir que é uma política fracassada, que simplesmente não funciona. Se funcionasse, o Nordeste, campeão em adesão às campanhas de desarmamento, jamais poderia ser também campeão no crescimento de homicídios. O problema é que a ideologia dos hoje responsáveis pela segurança pública nacional os cega, e essa cegueira está matando, inclusive os nossos jovens.


Fabricio Rebelo | bacharel em direito, pesquisador em segurança pública, coordenador para a região Nordeste da ONG Movimento Viva Brasil e colaborador do blog @DefesaArmada

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