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domingo, 9 de setembro de 2012

Crônica de uma não reação anunciada.

* Fabricio Rebelo

Há quinze dias, um amigo foi assaltado em sua residência, mais uma vítima de uma modalidade de crime que cresce exponencialmente no Brasil. O relato da experiência demonstra um misto de medo, revolta e impotência, além de uma sensação igualmente incômoda de que as vítimas é que estão sendo presas, enquanto os criminosos estão soltos. 

Faltava um pouco para as 20h, a maior parte da família estava sentada à mesa da sala – pai, dois filhos pequenos e a sogra -, enquanto a mãe terminava uns afazeres na parte externa da casa. Ao virar-se para seguir um dos filhos, que levantara correndo, a imagem do vulto no jardim já disparava o frio na espinha e o pensamento natural a qualquer pai de família: “meu Deus, meus filhos!” 

Ao ingressar na casa e ser visto, um sinal do invasor para um possível comparsa completava o cenário de medo. A partir daí, o que se segue é o que, infelizmente, virou rotina em um país de criminalidade em alta: busca por joias, dinheiro, ameaças de morte, retenção das vítimas em um dos cômodos e uma postura do criminoso como se não estivesse ali fazendo absolutamente nada de ilegal, como se fosse o mero exercício natural de suas atividades. 

Em absolutamente nenhum momento da ação, que durou menos de dez minutos, o bandido esboçou a mais ínfima preocupação com uma reação das vítimas. Não as revistou, não procurou por armas e chegou ao cúmulo de, enquanto fuçava uma caixa de joias para identificar o que seria verdadeiro ou bijuteria, afastar-se da própria arma, deixando-a sobre uma mesa. Era como se a possibilidade de uma reação simplesmente não existisse, uma segurança para agir que beirava o surrealismo. 

Depois do roubo, sua reconstituição mental pelas vítimas bem demonstrava que as chances de reação sem qualquer risco para elas foram inúmeras. Além de não as revistar e até ter se afastado da arma, o bandido as dava as costas, levou todas para um local fechado, longe da visão de qualquer eventual cúmplice – coisa que depois se descobriu inexistente – e deixou, à distância, o dono da casa sozinho no closet, para que buscasse em suas caixas mais dinheiro e objetos de valor. 

Chances foram inúmeras, faltava o instrumento eficaz. O dono da casa é mais um dos milhões de brasileiros impedidos de ter uma arma para se defender e, com isso, tratado pelos bandidos como ovelha a ser abatida, desrespeitado em sua mais natural condição humana, na frente de sua família e sob os olhares de duas crianças pequenas, cujos traumas sofridos até agora são imensuráveis. 

Ao registrar a ocorrência, a naturalidade dos policiais no tratamento de fatos assim bem demonstrava que hoje qualquer bandido, sozinho, se arrisca a entrar na casa do cidadão, rouba-o, humilha-o e não teme nenhum tipo de reação. Chegou a ouvir até um enviesado consolo do agente, que mostrava alento por não ter havido um crime sexual, coisa que, pasme-se, tem sido comum em invasões assim, mesmo quando o agressor está sozinho. 

Passada a tenebrosa experiência, a casa da vítima agora está guarnecida de cerca elétrica, arames cortantes e ainda mais dispositivos de alarme. Lá dentro, trancada, está a família de um cidadão brasileiro honesto. O bandido está do lado de fora, solto, como lobo à espreita da próxima ovelha, que só resta ser escolhida dentre o universo delas, assim transformadas por uma política governamental entreguista, que reserva direitos aos criminosos e, às suas vítimas, só o medo.


Fabricio Rebelo | bacharel em direito, pesquisador em segurança pública, diretor da ONG Movimento Viva Brasil e colaborador do blog @DefesaArmada.

>> Texto de livre reprodução, desde que na íntegra e preservando-se a indicação autoral.

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